04/06/11

ENTREVISTA A RUBEN MARCELO


Na época 2003/04 trabalhei com o Marcelo “ O Lobo”. Na intimidade dos meus apontamentos da época, dei-lhe o apelido de “Lobo” por diversas razões: Primeiro porque era o seu apelido (Embora nunca o tenha chamado por Lobo, mas sim por Marcelo – era mais Marchelo); depois porque era um jogador disponível para jogar em qualquer posição, sempre determinado, aplicado e eficiente; depois porque, como qualquer miúdo naquela idade, queria era jogar e marcar golos; depois porque queria sempre uma explicação sobre as minhas opções em relação á sua utilização.

Era um jogador interessado e aplicado, nunca complicado. Naquela altura tentei passar a mensagem da importância da evolução, do crescimento, da descoberta de lugar e que qualquer treinador escolhe sempre os melhores para cada jogo, mas nunca dispensa os polivalentes e disponíveis. Mesmo porque só o tempo refina aptidões. Não sei se Marcelo percebeu a mensagem, mas o certo é que estava sempre disponível. Sempre!

Em 2003/04 escrevi sobre Ruben Marcelo: Proveniente das Escolas. Um jogador de emoções e personalidade, disponível, polivalente. Fez várias posições em campo e gerou expectativas sobre a sua fixação. Íamos dar tempo.

Marcelo ainda te lembras da tua chegada aos infantis B do SC Farense?
Eu já estava no Farense, no escalão de escolas. Fui para os infantis com vontade de jogar, evoluir e ajudar. Fazia várias posições e como o mister dizia, era polivalente.
Pois! Polivalência é utilidade. Nesta época conseguimos o quarto lugar e também um lugar para sonhar no que poderíamos fazer na época seguinte. As expectativas eram elevadas mas…
Tivemos que jogar na 2.ª divisão distrital porque os infantis no ano anterior tinham descido.

Mas nessa época, depois do quarto lugar no campeonato, ainda estivemos na inauguração do Estádio Algarve…
Foi uma experiência única. Poucos atletas tiveram a sorte de jogar num estádio como aquele e logo na inauguração. Jogamos contra o Louletano e, não tenho a certeza, acho que perdemos. Mas valeu a pena. Depois desse dia ainda treinei lá mais uma vez.
Perdemos sim, penso que por 2-1, mas apesar da tristeza acho que a equipa nunca mais esquecerá esse momento.

Na época 2004/05 escrevi sobre Ruben Marcelo: Capacidade de adaptação a diversas posições, bons níveis de velocidade e agilidade. Grande determinação e vontade de evoluir. Época dentro das previsões, mas faltaram pormenores. Jogador de grande disponibilidade, jogou a Lateral Esquerdo, Central, Distribuidor e Avançado fixo.

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A época 2004/05 nos Infantis A do Farense, foi e será sempre uma época especial, não só porque a equipa estava preparada para atacar a 1.ª divisão e depois se viu relegada a jogar na 2.ª divisão e, para infinita desilusão, não conseguiu subir na última jornada…
Essa foi a época que mais me marcou na minha passagem pelo Farense. Foi muito competitiva e emocionante, mesmo que disputada apenas entre 3 equipas. A maior parte dos jogos ganhávamos por grande diferença de golos. O objectivo era subir de divisão, mas infelizmente não conseguimos. Não me esqueço do jogo com o Lagoa em casa, em que precisávamos apenas de 1 ponto para subir e acabamos por perder o jogo por 1-0. Lembro-me também que o Pedro falhou um penalty. Ele assumiu a responsabilidade, falhou, mas nós não o deitamos abaixo, sempre o apoiamos porque ele também podia decidir o jogo a qualquer momento. Acho que tentamos tudo, mas não conseguimos dar a volta e perdemos. Foi muito marcante esse jogo.”
Foi realmente uma pancada muito forte, mas acho que serviu de exemplo e fortaleceu cada elemento do grupo em relação ao futuro…

Nessa época, lembro-me ainda de um episódio engraçado. Tinha saído um pouco de um jogo, não me lembro bem de qual, mas sentia-me bem e confiante. Então pedi ao mister para me pôr na frente, como avançado, disse até: ”Mister, deixe-me entrar, eu marco já um golo!”. O mister riu-se, e fez-me a vontade colocando-me a avançado. Pouco tempo depois, um colega (já não me lembro quem foi) faz um cruzamento para dentro da área e eu apareço para fazer um golo de cabeça. E claro, depois corri para o banco para ir ter com o mister, para festejar. Foi muito engraçado.”
Em cada desafio de futebol, há pequenos desafios que todos temos de gerir…

Mas também aconteceu um momento triste nessa época. A meio do campeonato, infelizmente a minha tia faleceu e fiquei muito em baixo. Mas, mesmo assim quis jogar nesse fim-de-semana, num jogo contra o S. Luís, e consegui marcar um golo que dediquei à minha tia. Por tudo isto é que digo que nunca me vou esquecer dessa época.”

Na Época 2005/06, tiveste que enfrentar a mudança de escalão, para os iniciados, geralmente é uma etapa nada fácil…
Foi muito complicado! Tentar arranjar uma posição; habituar-me às dimensões do campo; às tácticas, não foi fácil. Adaptei-me a jogar a defesa esquerdo e direito, mas joguei pouco nesse ano.”

E depois…
Na época 2006/07, fui jogar para o SC Olhanense. Vivia em Olhão e como jogava pouco, decidi mudar. Não foi fácil deixar o Farense, afinal de contas foi sempre o clube onde joguei e que me ajudou a evoluir. Depois, também foi difícil deixar os grandes colegas que tinha, mas não perdemos a ligação e as amizades.”

Apesar disso…
No Olhanense as coisas também não foram fáceis. Adaptar-me ao novo clube e equipa foi complicado, era um grupo muito fechado. Não gostavam muito que viessem jogadores de fora. Mas consegui integrar-me no grupo e joguei bastante nessa época, na primeira divisão nacional.”

Terminada a etapa dos iniciados, novo escalão para enfrentar, agora o juvenil. Costuma-se dizer que o escalão de juvenis é o escalão de aferição, nem fácil, nem difícil, mas muito importante na selecção de valores. No primeiro ano, 2007/08, como correram as coisas?
No primeiro ano de juvenis foi muito difícil jogar no Olhanense.”

E no segundo ano, época 2008/09?
No segundo ano, tive que fazer uma escolha e decidi ir “rodar” para o Fuzeta. Considero que não desci de categoria, muito antes pelo contrário. No Fuzeta aprendi e evoluí muito, graças ao mister que lá encontrei. Joguei na primeira divisão distrital e joguei bastante, o que é bom para se poder evoluir.”

E chegamos ao escalão de juniores…
Na época 2009/10 regressei ao SC Olhanense e fomos campeões na primeira divisão distrital do Algarve. Foi das melhores épocas! Um grande grupo, joguei com regularidade e ajudei a equipa.”

Foi um regresso com sabor…
Neste primeiro ano de juniores, lembro-me de um jogo contra o Marítimo Olhanense, em que comecei o jogo no banco e a 5 minutos do fim estávamos a perder. O mister decidiu colocar-me em campo, eu sabia que tinha pouco tempo para fazer alguma coisa, mas no primeiro lance em que toco na bola consegui o golo do empate. Está a imaginar a emoção. Foi um empate importante para a classificação. Nessa época consegui marcar 10 golos.

E esta época?
Na época 2010/11, ou seja esta, continuei no Olhanense e conseguimos a manutenção na segunda divisão nacional. Com a equipa que tínhamos podíamos ter feito melhor. No mesmo campeonato o SC Farense também conseguiu a manutenção. É sempre bom termos equipas do Algarve nos nacionais.

Revendo todas estas épocas de formação, em que posição foste mais utilizado e que evolução tiveste como jogador?
Nos iniciados só fiz as posições de defesa direito e esquerdo. Nos Juvenis joguei a lateral esquerdo, extremo direito e esquerdo e cheguei a jogar uma vez a médio centro. Nos juniores iniciei a lateral esquerdo, mas o mister desse ano experimentou-me a avançado/ponta-de-lança. O que interessa é que consegui evoluir e sentia-me bem em jogar. Acho que sou um bom jogador nos aspectos tácticos e com características ofensivas, estou sempre disponível e no sítio certo. É claro que falta evoluir muito, no futebol vamos sempre aprendendo.”
No futebol e na vida!

As melhores épocas foram?
Infantis A e Juniores.”

Fala-me dos treinadores e clubes em todos os escalões, que mereçam referência…
Mister Emídio Taylor (Farense) - Excelente treinador das camadas jovens, motivava muito, dava-nos uma vontade de jogar futebol incrível. É um treinador que não me vou esquecer, nem da sua típica frase: “Treina como jogas, joga como treinas!”
Mister Nuno Ramos (
Farense) – Treinador muito calmo, mas muito bom nos aspectos tácticos.
Mister Viegas (
treinador do Fuzeta na altura) – Trabalhava tudo, não deixava passar nada, também um treinador calmo e excelente pessoa. Gostei muito de trabalhar com este mister.
Mister Hélder (
Treinador dos juniores Olhanense) – Bom observador, o treinador que apostou na posição que mais gosto de jogar
.”
Da minha parte simpatia tua, mas foram duas boas épocas.

Olhas para o SC Farense e o que vês?
O SC Farense foi um grande clube, infelizmente está numa fase difícil, mas está a recuperar apesar das dificuldades. Não é fácil recuperar de um momento para o outro. É um clube que estará sempre presente, porque foi onde comecei e me deram a oportunidade de jogar futebol.”

E os estudos?
Podíamos cortar esta parte!? Não estudo, só completei o 9.º ano.
Pois! O pior auto-golo da tua carreira. Mas o que se faz depois de um auto-golo?

Agora quais são as próximas etapas? Quais são os teus sonhos e projectos?
Agora a chegada aos seniores, é outra fase que qualquer jogador tem de passar. Sei que vai ser difícil, mas quero continuar a jogar futebol, se calhar a melhor opção é começar por baixo e continuar a crescer. Espero conciliar o futebol com a carreira profissional.
Pelo teu histórico, não és pessoa para desistir. Só espero que não comeces agora…

Obrigado pela partilha Marchelo, continua a descobrir o teu caminho.
Obrigado Mister. Um grande Abraço!

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ETaylor

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