30/10/10

COMEÇOU O CAMPEONATO DE INFANTIS

Mesmo sem ter acesso aos resultados completos da primeira jornada no site da AFA, facto que se deve também à falta de sentido de colaboração dos diversos clubes em competição na comunicação dos seus resultados, começou a Divisão Única do campeonato de Infantis Fut.7.

Dos resultados conhecidos da primeira jornada registam-se: Imortal -2-Academia Sporting Faro-29; SC Farense-11-Montenegro-3; Portimonense-20-Alvorense-1; Guia-3-Portimonense-9; Marítimo Olhanense-10-Quatro ao Cubo-2; Odeáxere-12-Salir-2; Almancilense-2-Guia-9; Vaqueiros-1-Bias-9. Resultados que espelham um dos pecados do novo modelo de competição, porque existem outros.

De salientar que a inovação do futebol de 11 no escalão, também vai retirar alguma qualidade às competições do futebol infantil. Entende-se a implementação de uma competição de infantis de futebol de 11, numa fase preparatória de transição para iniciados, em final de época e em corpo de torneio complementar. Não como opção competitiva. Assim, corre-se o risco de não valorizar coisa nenhuma.

Tudo menos misturar tudo!

Isto sem falar na organização dos jogos, nos campos, nas desistências, nos grandes e pequenos, nas escolas e clubes, na descaracterização, na assiduidade da arbitragem…

ETaylor

17/10/10

CAMPEONATOS DE INFANTIS

Para a Época 2010/11, a AFA resolveu organizar duas competições no escalão de Infantis: O Campeonato de Infantis em Futebol 7 e o Campeonato de Infantis em Futebol 11. Da mesma forma, decidiu introduzir alterações no modelo de competição dos Infantis Fut.7, com a implementação de uma divisão única. Iniciativas com prós e contras que o tempo se encarregará de aferir. Pelo menos as equipas jogarão mais vezes e terão menos paragens na competição, mas, se calhar, com menos árbitros para apitar.

FUTEBOL DE 7
O novo Regulamento do Campeonato Distrital de Infantis (Fut.7) institui uma divisão única com 56 equipas e prevê 5 fases de competição:

A 1.ª Fase será disputada em sistema de poule por pontos e a duas voltas. As equipas serão divididas em 6 séries. Os 4 primeiros classificados de cada série passarão para a segunda fase (24 equipas). As restantes equipas (32) serão incorporadas no Torneio Complementar, em modelo idêntico.

A 2.ª Fase também será disputada em sistema de poule por pontos e a duas voltas. Os clubes serão divididos em 6 séries de 4 equipas, em obediência a critérios estabelecidos. Qualificam-se para a fase seguinte os vencedores de cada série e os dois melhores segundos classificados, num total de 8 equipas.

A 3.ª Fase, que serão os quartos de final da competição, será disputada em sistema de eliminatórias a 1 mão, com o vencedor a garantir apuramento directo para as meias-finais. Os 4 jogos desta fase serão disputados em campo neutro, a determinar pela AFA.

A 4.ª Fase, que serão as meias-finais, será disputada em sistema de eliminatória a 1 mão, com o vencedor a garantir o apuramento para a final. Os 2 jogos desta fase serão disputados em campo neutro, a determinar pela AFA.

A 5.ª Fase, ou Final da competição, será disputada em apenas 1 jogo e em campo neutro a determinar pela AFA.

O SC Farense irá participar com duas equipas, uma na Série D (Juntamente com Imortal DC, Inter Almancil, Louletano DC, Academia Sporting Faro, Geração de Génios, CD Montenegro, Escola Futebol de Faro, FC S. Luís, SR 1.º de Janeiro) e outra na Série E (Academia Sporting Faro, Geração de Génios, CD Montenegro, FC S. Luís, Marítimo Olhanense, SC Olhanense, Ginásio Tavira, Lusitano FC VRSA).

O Campeonato de Infantis Fut.7 começa a 23 de Outubro e na primeira jornada o SC Farense recebe o CD Montenegro (Série D) e o Ginásio de Tavira (Série E).

FUTEBOL DE 11
A novidade da época reside na realização de um campeonato de Infantis em Fut.11. Participam na competição o Imortal DC, o Louletano DC, o CDR Quarteirense, SC Olhanense, FC Ferreiras, UD Messinense, SR 1.º de Janeiro, Lusitano FC, CF Esperança de Lagos. O Campeonato começa a 20 de Novembro.

Considerando o número reduzido de adesões, o campeonato será complementado com um torneio suplementar.

ETaylor

12/10/10

RECORDAR COM RICARDO PEREIRA

Sobre Ricardo Pereira escrevi e coloquei em relatório de final da época 2001/02 dos infantis: Aposta pessoal na posição de trinco. Elemento esquerdino tecnicamente evoluído, falso lento com sentido posicional e disciplinado tacticamente. Bom recuperador de bolas, supera flutuações físicas com determinação e empenho. Segurança no passe curto, capacidade no passe médio/longo.

2001/02. Uma equipa fantástica de infantis A. Jorge Leitão, Tiago Moreno, Diogo Santos, David Pirralho, Ricardo Pereira, Francisco Maia, Luís Girou, Pedro Chanfana, Tiago Cardoso…
As recordações que tenho dos infantis do Farense são as melhores. São tempos que vou recordar para sempre: O grupo de trabalho, os misteres Vítor e Emídio e uma excelente equipa. Um grupo 5 estrelas em que nos dávamos todos bem e que até hoje continuamos com a mesma amizade que tínhamos nessa altura.”

Vítor Mosca foi o técnico que iniciou a época e deparou-se com dificuldades inesperadas, nomeadamente com iniciação tardia de preparação para o campeonato, ausência de jogadores fundamentais, algumas dores de crescimento e entrada precoce em competição. Com tudo isso, a equipa iniciou muito mal a época. Entretanto, ainda antes de terminar a 1.ª volta, Vítor Mosca teve de afastar-se por motivos profissionais e a Direcção do Farense solicitou que eu estendesse o meu contributo a esta equipa, já que era responsável pelos Infantis B.
A partir daí fizemos 15 jogos consecutivos sem perder. Em fase de recuperação, a equipa conseguiu um 2.º lugar (Entre 12 equipas) e convém registar que na 2.ª volta não perdeu qualquer jogo, cedendo apenas 2 empates.
Na segunda volta dos infantis não demos hipóteses a ninguém. Ninguém nos parava.” O Campeão desse ano foi o Lusitano de VRSA, onde jogava o Conduto, e na segunda volta vencemos por 3-0.

Outra nota importante. Em 2003, confirmou-se o convite de participar no torneio em Espanha, o IV MACAEL CUP 2003. Tínhamos ganho o campeonato de Infantis A, 2002/03, e este seria o culminar de uma época extraordinária. Como responsável dos Infantis A, conhecedor da competição (destinada a iniciados de 1.º ano) e anterior treinador dos infantis A de 2001/02, que estiveram na edição anterior, decidi fazer uma selecção de valores para convocar e premiar todos. Convoquei:
Iniciados de 1.º Ano: (5) Luís Girou; Ricardo Pereira; Pedro Chanfana; David Pirralho e Tiago Cardoso. Tive pena do Francisco Maia e do Tiago Moreno estarem lesionados. O Diogo Santos estava no Sporting CP.
Infantis A: (7) David Farias; Pedro Eugénio; Luís Oliveira; Jorge Santos; João Fitas; André Uva e Álvaro Gomes.
Era uma “fornada” que faria história no futebol de formação do SC Farense. Foi um torneio extraordinário que terminou com uma derrota na final por 2-1, após prolongamento, frente ao Sevilha.
Estive duas vezes em Espanha no Torneio Macael, em ambas as vezes foi espectacular, mas no segundo ano fomos mais preparados e apenas falhou a final com o Sevilha. Era um grupo espectacular, o mister e dirigentes 5 estrelas como o Cartaxo e o Toni. Estes são momentos que nos marcam para a vida.” .
Lembro-me que antes do jogo da final, disse ao Cartaxo e ao Toni: “Se eles jogarem com 2 avançados ganhamos o jogo, o Oliveira e o Pereira arrumam a casa”. A teoria era simples e dependia da qualidade e experiência dos jogadores na alternância do sistema: Nós jogávamos sempre em 3-2-1, mas se eles aparecessem com um 3-1-2, nós alterávamos para 2-3-1, com o Oliveira e o Pereira no eixo defensivo, os laterais subidos e o resto a equipa sabia o que fazer. Acontece que nesse jogo da final o Pereira lesionou-se e não acabou o encontro, facto que nos obrigou a alterações no modelo.

Sempre reconheci no Pereira condições para jogar ao mais alto nível. Coloquei-o a jogar a trinco nos infantis porque considerei que essa seria a sua posição de qualidade quando se transferisse para o Futebol de 11. Apesar de ter um bom pé esquerdo para jogar em várias posições, as condições morfológicas e a velocidade eram condicionantes para o lugar de defesa esquerdo. A capacidade de recuperação de bolas, a amplitude que oferecia ao jogo, a estrutura física que já apresentava e a qualidade do passe curto e longo, faziam adivinhar um médio centro em potência e que o tempo se encarregaria de confirmar. Era uma espécie de Redondo.
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Quando passou para os iniciados, só no segundo ano recuperou o seu lugar.
A primeira época de iniciados é para esquecer. Jogava a defesa esquerdo e a época não correu muito bem. A minha melhor época foi nos iniciados de segundo ano, onde jogava quase sempre a médio centro. Acho que fiz uma grande temporada. Foi aí que depois fui contratado pelo FC Porto.”

Surge a oportunidade FC Porto, o sonho de representar um grande e cimentar aspirações:
A experiência no FC Porto foi fantástica, apesar de não ter jogado tantas vezes como queria e esperava. Valeu a experiência.”

O regresso ao berço, SC Farense:
No regresso ao SC Farense correu tudo bem. Fomos à segunda fase do Nacional de Juniores, mas depois apanhamos o Sporting e não conseguimos chegar à fase final.”

Que aconteceu no teu segundo ano de Juniores? Esperava-se que as gerações de 2001 e 2002 se voltassem a juntar para fazer novos registos históricos:
Em relação ao clube Farense, vou ser sempre do Farense o resto da vida. É o Clube do meu coração. Mesmo apesar de algumas coisas que me fizeram na minha segunda época de juniores. Queria ir para o Louletano porque era a última oportunidade que tinha para jogar na primeira divisão de juniores e fizeram tudo para isso não acontecer. O Louletano teve de pagar 5 mil euros para me libertarem. A partir daí, nunca mais ninguém do Farense me disse nada, nem se lembraram dos tempos que tive na formação do Farense, nem se lembraram que quando fui para o FC Porto, o Farense também ganhou com a transferência.”

Quanto a estudos? Fiquei pelo 9.º Ano!

Bom! Apostaste no futebol. Tanta experiência em tão pouco tempo, passaste por clubes, por treinadores, por dirigentes, que ensinamentos?
O Futebol também é uma escola. No Farense tive grandes treinadores como mister Emídio nos infantis, mister Tózé nos iniciados, o mister Pedro Moreira nos juniores. O mister José Guilherme no FC Porto, que foi até há pouco tempo o preparador físico da Selecção Nacional do tempo do Carlos Queiroz. E agora tenho no Ferreiras um excelente mister e uma grande pessoa que é o mister Ricardo.”

E chegamos aos seniores! Tiveste convites? Conta como foi:
Quando cheguei a sénior tive alguns convites, mas escolhi o FC Ferreiras, Clube 5 Estrelas, onde me mantenho até hoje. O FC Ferreiras foi o clube que me abriu as portas do futebol sénior, estou agradecido por tudo, nunca falhou com nada do que prometeu e tem pessoas que gostam muito do clube e acima de tudo muito competentes. Apesar de ter recebido propostas de outros clubes do Algarve, decidi continuar no Ferreiras, não só pelas excelentes condições que o clube oferece, mas também pelas pessoas que são fantásticas.”

Só por curiosidade, jogas em que posição? A médio-esquerdo!

Para terminar, quais são os teus sonhos e projectos?
"O meu sonho é ainda poder jogar na I Liga, apesar de eu saber que é muito difícil. Mas ainda sou novo e é natural que queira jogar num Clube de maior dimensão".
Ponto. Paragrafo. Ainda vamos ter muito Ricardo Pereira se ele for teimoso e perseverante nas conquistas. Para isso, é preciso “treinar como joga e jogar como treina”.
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Nota: Nas duas fotos, o Pereira é o 3.º a contar da esquerda, em cima. Na primeira foto o último jogo da época em Lagos. Na segunda foto, Macael 2003.
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ETaylor

07/10/10

DIVISÃO ÚNICA NOS INFANTIS


Acredito que quando se inventou a separação dos campeonatos por divisões, não só dos infantis, se estava a pensar na selecção qualitativa de todos os valores envolvidos. Ou seja, tornar os campeonatos mais competitivos, selectivos e exigentes. Com isso potenciar as qualidades das equipas e dos jogadores, numa lógica de evolução e crescimento, em competição adequada. De igual forma, defender a evolução natural e gradual dos jovens praticantes menos capacitados para resposta imediata.

É obvio que os níveis de exigência determinam as competências e o facilitismo tem condução contrária. Tal como exigências precoces têm efeitos nefastos.

Sempre defendi que o escalão de Infantis deve ser o “estágio” indicado e adequado, daí a graduação B e A, na transferência para o escalão seguinte de maior exigência competitiva e muito mais selectivo, como é o escalão de iniciados.

Por isso, tenho alguma dificuldade em perceber as razões da AFA ter decidido eliminar as divisões dos campeonatos de Infantis e ter implementado uma Divisão Única, dividida em 6 séries, sem diferenciação. Ou seja, deixa de existir primeira e segundas divisões no escalão de infantis.

Alguma razão haverá para tal decisão! mas da mesma forma se questiona: Servirá este modelo os interesses do futebol infantil?

Aguardo que alguém me esclareça, porque esclarecido não estou.

Nota: Parece que está previsto um campeonato de Infantis de futebol de 11. As minhas dúvidas residem em factos residuais: Praticantes preparados como? Para jogar onde, quando e a que horas? Quantas equipas irão participar?
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ETaylor

03/10/10

Á CONVERSA COM RAUL CURVELO

Época 2001/02. Nova época de futebol da formação, novas expectativas, nova “fornada”, novo ciclo para todos. Como em todos os inícios de época. Nos Infantis B, foram integrados dois jogadores com idade de escola, a saber: Paulo Pinto e Raul Curvelo.
Curvelo, era um miúdo deslocado de escalão que não sentia a diferença de idades e que enfrentava qualquer desafio sem complexos de inferioridade. Era um miúdo que se fazia acompanhar sempre com uma bola. Era como se a bola fosse uma extensão do seu corpo. Brincava com ele dizendo que mesmo a dormir não se separava dela. E se calhar, não!

Com os treinos e com os jogos, fui descobrindo que aquilo não era só paixão pela bola, era também um miúdo com potencialidades para descobrir o futebol. Pelo menos o seu futebol. Rapidez de execução, técnica simples nos processos ofensivos, objectividade, instinto e eficácia na área e zona de finalização, sempre em escapatória do contacto físico. Tudo isto levou-me a pensar que tinha descoberto um avançado centro de futuro assegurado. Seria uma das apostas para a época seguinte, para desenvolver trabalho nessa área específica.

No final, da única época em que trabalhei com ele escrevi no relatório qualquer coisa como: "Tal como Paulo Pinto um jovem escola que evoluiu neste escalão. Um avançado puro que precisa de ser conduzido de forma adequada. Apostei comigo próprio que seria um avançado centro de futuro assegurado."

Com isto na memória, resolvi ouvir o Curvelo, alguns anos depois e agora que chegou ao futebol sénior, pedindo-lhe para fazer uma retrospectiva da sua passagem pela formação. Fala-me dos infantis. “Bons momentos sem dúvida, costuma-se dizer que a primeira impressão é a que fica e realmente penso que os infantis são a imagem disso mesmo, os primeiros colegas de equipa, os primeiros jogos a sério, os primeiros treinadores, as primeiras bases, por assim dizer. Penso que foi uma das muitas razões para hoje ainda ter uma paixão enorme pela bola. O grupo de trabalho que tínhamos também ajudou muito, com muito potencial e sobretudo uma grande amizade que ainda hoje permanece.”
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Um escolinha a intrometer-se nos infantis…”Lembro-me de na altura, antes de começarem os treinos de infantis me darem a triste noticia que nesse ano não iria haver equipa de escolas. Andei uns tempos com a cabeça ás voltas e a pensar no que iria fazer, até que recebi a informação que eu e mais um grande amigo, o Paulinho (na altura também escola e na mesma situação que eu) iríamos integrar a equipa de infantis. É sempre produtivo treinar com colegas mais velhos, com nível superior ao nosso, com mais exigências de aprendizagem. Assim tive de dar mais de mim, de me esforçar ao máximo para ter um lugarzinho no plantel. Felizmente correu tudo bem, formamos um grande grupo, de grande amizade e no ano seguinte esses mesmos colegas (Na altura eu tinha ficado no escalão da minha idade) viriam a conquistar o primeiro lugar do campeonato de infantis.”
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Tiveste 3 anos de infantis, facto que não é normal! “Três aninhos, três aninhos de alegria, de tristezas, de emoções fortes. Com aquela idade, aquela rotina de treinos - jogos, jogos – treinos, não é para qualquer um! É preciso gostar muito do que se está a fazer. Mas, os bons balneários que tínhamos eram uma boa razão e talvez a principal para continuar ano após ano."

Vamos por partes, recuando um pouco e recuperar esses três anos de infantis. No primeiro ano…”O primeiro mister que tive nos infantis foi o mister Emídio Taylor, uma grande pessoa, um excelente profissional, e o mais importante, um grande amigo. Porque naquela idade conta mais ter um treinador que saiba ser nosso amigo do que um treinador que encare os treinos e os jogos como se tivesse a treinar juvenis, juniores ou seniores. Penso que foi a chave para o sucesso da nossa equipa, sabíamos que chegava aquela hora do treino e todos os problemas eram postos de lado, treinava-se a brincar, mas não se brincava com o treino.
Recordo-me, por exemplo, de um episódio em Ayamonte, num torneio de infantis B, jogávamos contra uma equipa espanhola e o jogo acabou empatado. De seguida fomos a penaltys, o mister escolheu-me para ser eu a bater a última penalidade. O coração batia mais forte, só via o guarda-redes e a baliza á frente, as minhas pernas tremiam, chutei e acabaria por falhar o penalty. De seguida eles marcaram e nós perdemos. Nem queria acreditar! Naquela idade, este tipo de situações têm um peso muito grande. Desatei a chorar e quando pensava que estavam todos chateados comigo foi então que o mister Emídio, com uma palmadinha nas costas, me disse algo do género: " Vamos Curvelo, acontece! os melhores também falham!". São estes pequenos gestos que ficam gravados mesmo com o passar dos anos."
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Sinceramente, e apesar da maior exigência competitiva, esperava poder contar com o Curvelo no segundo ano de Infantis. Mesmo porque queria dar continuidade ao trabalho desenvolvido e reforçar a aposta nas qualidades ofensivas do jogador, a quem tinha diagnosticado potencialidades de avançado. No entanto, as necessidades de escalão imperaram de forma pacífica, porque estavam em causa os superiores interesses do SCF.
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Posto isto, na época seguinte e seguintes, perdeu-se um avançado e ganhou-se um distribuidor. Como foi? “Na época seguinte fiquei um pouco desiludido, pois pensava que iria continuar com a equipa e transitar para infantil A, mesmo com idade de infantil B. Mas tal não foi possível e acabei por integrar, eu e mais o Paulinho, a equipa B. Escalão onde encontrei o mister Bentinho e o mister Nuno, dois treinadores de gerações diferentes. O mister Bentinho com toda a sua escola de futebol, muito exigente mas com um coração enorme. Tenho pena de ter perdido contacto com ele. O mister Nuno Estevam, penso que era o seu começo como treinador, com muita vontade de aprender. Na época seguinte, a minha terceira, o mister Nuno acabaria por vir a pegar na equipa. São muitos os episódios que tivemos juntos, a maioria muito bons.”

Curvelo! Serviço cumprido em todos os escalões de Formação do SC Farense, vamos lá esmiuçar isso, começando pelos iniciados…”Nos iniciados foi um pouco complicado. A transição de futebol 7 para futebol de 11 não é fácil, lembro-me de comentar com colegas meus que o campo parecia que não tinha fim. No primeiro ano joguei para aí uns 4 jogos, na altura ainda era médio-centro. Na época seguinte recuaram-me para lateral direito (posição que jogo ainda hoje), jogava a titular e penso que joguei todos os jogos.”

Navegando pelos juvenis…"No primeiro ano de juvenis, penso que foi o da minha afirmação. Tínhamos um grupo muito bom, com grande qualidade e com grandes jogadores. Á partida estava mentalizado que não ia ter muitas hipóteses, mas com o passar dos treinos fui vendo que se calhar até não iria ser assim tão difícil, bastava apenas trabalhar e esforçar-me ao máximo. Comecei a jogar como lateral direito naquela equipa fantástica, com grandes jogadores, como o Oliveira, o Alvarinho, o Piçarra, o André Ferreira, o João Fitas…, jogadores excepcionais, mais velhos que eu. Acabámos o campeonato em segundo lugar com os mesmos pontos que o primeiro, se bem me lembro, o Vitória de Setúbal. Apuramo-nos para a segunda fase onde jogámos contra Benfica, Marítimo e Barreirense. Ficamos em segundo lugar do grupo e no fim em 6.º lugar a nível nacional. Aprendi muito nesse ano, o treinador era o mister Nuno Ramos. Foi talvez, a época mais importante para saber se era mesmo aquilo que queria ou não.”
E no Segundo ano…”Na época seguinte saíram muitos jogadores porque eram de segundo ano e entraram outros. Tínhamos uma boa equipa também, mas as coisas não correram bem, mudamos de treinador, começamos a época com o mister Cartaxo e acabamos com o mister Ferrinhos. A mudança não foi fácil, éramos muito apegados ao mister Cartaxo. Ao início não aceitamos muito bem a vinda do mister Ferrinhos, mas depois com o tempo fomos conhecendo-o melhor e começamos a gostar dele, mas o mal já estava feito, estávamos numa posição muito complicada na tabela classificativa e acabámos por descer de divisão.”

Chegamos aos juniores, o escalão da aferição. “O meu primeiro ano de júnior foi espectacular, onde voltei a encontrar os companheiros do primeiro ano de juvenis. Estávamos a disputar a primeira divisão nacional, onde já entravam equipas como o Benfica, o Sporting, Belenenses, Nacional da Madeira, etc... E onde jogavam muitos jogadores que jogam hoje na primeira e segunda ligas. Conseguimos o objectivo, a manutenção, que era muito difícil devido à competitividade e qualidade daquele campeonato. O mister Serôdio teve um papel fundamental, tinha acabado de subir aquela equipa, no ano anterior, e esperava-o um grande desafio. Foi um dos melhores treinadores que tive até hoje, talvez até o melhor. Sabia perfeitamente as dificuldades que iríamos encontrar durante o campeonato e preparou cada jogo da forma mais adequada. Sabíamos que não dava para jogar contra equipas como Benfica ou Sporting, de olhos nos olhos, por isso jogávamos com 5 defesas e apostávamos no contra-ataque. Como tínhamos jogadores muito bons na frente, fizemos muitas surpresas ás melhores equipas, como a vitoria na Madeira frente ao Nacional. Nesse jogo, levámos um massacre de todo o tamanho mas, como éramos muito organizados a defender e muito fortes na frente, com jogadores como Alvarinho e o André, que faziam a diferença, acabamos por ir duas vezes á baliza do Nacional e ganhamos por 2-0. Foi talvez o resultado mais importante e com um sabor muito especial. Tínhamos um grande grupo e uma direcção com grandes pessoas como o Senhor “Manel”.”

Antes de mais, e os estudos? “Este ano vou acabar o 12.º Ano.”

Chegamos então à transição para os seniores…”Transição de júnior para sénior? Minha nossa! É difícil quando se dá a "vida" por um clube e chegar-se a sénior e darem-nos um chuto no rabo sem justificação e sem uma palavra sequer. Foi talvez a maior desilusão da minha vida como jogador de futebol. Damos por nós a pensar para que serviu todos aqueles anos com aquele emblema ao peito, o nosso clube do coração, desde pequenino. O meu maior sonho e penso que o de qualquer miúdo, quando começa a jogar futebol é chegar á equipa principal, e eu não fugia á regra.”
É evidente alguma mágoa…"Tinha uma paixão muito grande pelo Farense, afinal de contas foi quase uma vida desportiva dedicada àquele clube; foram muitas as pessoas que conheci; foram muitas as emoções vividas; desde os 5/6 anos até aos 19 anos a jogar lá, penso que merecia ao menos uma palavra de conforto e agradecimento. Não quero dizer que tivesse hipóteses ou condições para ficar no plantel sénior mas, o que me custou foi nem sequer ter recebido uma chamada a informar se contavam ou não, comigo. Simplesmente foi como se nunca tivesse jogado naquele clube. No entanto, guardo ainda um grande carinho pelo Farense e por tudo o que vivi lá.”
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Deve ter sido uma fase bastante complicada. E depois? “Demorei ainda um tempo a assimilar as coisas e a ideia de deixar de jogar futebol ocorreu-me muitas vezes pela cabeça.”
Deixa-te de coisas…"Passei o verão todo sem saber o que iria fazer esta época (2010/11), ninguém me ligava e não tinha nenhum convite. A única pessoa que me tentou ajudar foi o Sr. Idalécio. É de admirar uma pessoa que me conhecia apenas dos treinos dos seniores, quando eu era chamado dos juniores, ter uma bondade tão grande.”
O apoio que todos precisam e que poucos estão dispostos a dar. “O Sr. Idalécio fez de tudo para me ajudar, desde levar-me a torneios durante o verão, onde estavam pessoas com muitos conhecimentos, de falar com vários treinadores. Conseguiu convencer o treinador do CDR Quarteirense a levar-me para lá onde ele também vai jogar este ano. Assim, ficou combinado ir lá treinar quando começassem os treinos.”
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No entanto…"Até que uma noite, recebi uma chamada do mister Tozé a convidar-me para ir para o UD Messinense que esta época vai jogar na 3.ª Divisão Nacional. Não pensei duas vezes, liguei ao Sr. Idalécio e pedi-lhe uma opinião, ele disse-me para aproveitar porque era uma oportunidade muito boa. E assim foi, estou a jogar no União de Messines, onde me acolheram super bem.”
O Idalécio foi um grande amigo! “Não posso deixar de agradecer ao Sr. Idalécio, foi sem dúvida uma das melhores pessoas que conheci, um grande amigo e uma pessoa com um coração enorme, que me ajudou a superar uma fase difícil.”

Agora quais são as próximas etapas? Quais são os teus sonhos e projectos? “Quando somos miúdos temos muitos sonhos, sonhos que passam por chegar á primeira liga, ou a um clube grande, ou jogar pela selecção, os habituais sonhos de criança. Eu tinha esse sonho e acreditava plenamente que ia conseguir. Mas com o passar dos anos vamos amadurecendo e vendo as coisas como realmente elas são. É muito difícil! Em 100, 1 ou 2 conseguem chegar longe e na maioria das vezes nem isso. Hoje, os meus projectos são muito diferentes de quando tinha 10/11 anos. Quero aprender ao máximo, trabalhar e tudo o que vier é por acréscimo.”

Muito bem miúdo, caminha em frente porque para trás não é caminho. “Um grande abraço mister, foi um prazer, obrigado pelos momentos que tivemos juntos. "Treina como jogas e joga como treinas ". Obrigado eu, por este momento.

ETaylor