12/09/07

ENTREVISTA A EMÍDIO TAYLOR 03


Entrevista publicada no Jornal semanário Desportivo do Sul, na data de 14 de Maio de 2003.


INFANTIS 2002/2003
Sporting Clube Farense - O Regresso do Campeão

O Desportivo do Sul inicia, neste número, reportagens sobre os campeões do Algarve, em todos os escalões, relativamente á época 2002/2003. Nesta primeira edição escolhemos o escalão de infantis, cujo campeão foi o Sporting Clube Farense. Desta forma promovemos uma entrevista com Emídio Taylor, treinador da equipa vencedora, para analisar a época e também o futebol infantil da região.
Para a história fica o registo de uma competição muito disputada, onde Farense, Quarteirense e Louletano tudo fizeram para adiar a questão do título até ao último minuto.

DS - Uma vitória difícil ?
ET – Muito difícil. Só para dar uma ideia, a três jornadas do fim estávamos em terceiro, a duas jornadas do fim passamos para segundo e na última chegamos ao primeiro.

DS – Foi mesmo no último fôlego ?
ET – Foi. Todos os clubes fizeram o possível, ganharam onde podiam e falharam onde não deviam. O Farense fez um ponto a mais e mereceu o título. Devo dizer até, por uma questão de justiça, que se o Quarteirense ou o Louletano tivessem vencido, seria igualmente justo. Assim eles nos façam justiça também. Foi um campeonato muito competitivo, o que só valoriza as equipas, os clubes, os jogadores, as equipas técnicas e todos os envolvidos. Principalmente os jogadores.

DS – Como se sente um campeão ?
ET - É natural que se sinta bem. Sente que cumpriu uma tarefa importante. Mas devo dizer que num escalão como os infantis, o mais importante é sentir que os miúdos merecem ser felizes com os seus sonhos. É uma etapa que marca significativamente. Nestas idades, eles ainda vivem a idade da inocência, dos sonhos e dos projectos, do jogo pelo jogo. São extremamente competitivos entre eles, mas são puros nas motivações. Estão em fase de iniciação, a partir daqui a exigência será maior, mais complexa, mas pelo menos já terão saboreado o gosto da vitória. Isso é muito importante na formação.

DS – A propósito de formação, como está o futebol infantil algarvio, em termos globais ?
ET – Só posso dizer que está a evoluir. Só posso esperar isso. É preciso referir que os infantis do Algarve são os campeões em título do campeonato inter-associações, facto pouco referenciado mas que atesta o trabalho que tem vindo a ser desenvolvido. Isto, mesmo considerando que é um escalão com muitas flutuações de qualidade. Aliás, se me permite, aproveito para dizer que a Associação do Algarve merece o reconhecimento pelos resultados obtidos na última época e não só a nível do futebol infantil.

DS – Mas isso é o espelho do futebol infantil algarvio ?
ET – Acho que sim. Claro que há excepções, mas este campeonato reflecte isso mesmo e não só. Nos escalões inferiores já se trabalha em qualidade e existe a preocupação de organizar em qualidade. Basta ver exemplos como Louletano, Quarteirense, Lusitano, Portimonense, Esperança de Lagos, Inter de Almancil, S. Luís e muitos outros que assumiram políticas de formação. Isto apesar das condições quase precárias, de isolamento e de falta de apoio ou financiamento. Apetece dizer que se trabalha com qualidade em condições sem qualidade. No entanto, estou certo que os clubes fazem o que podem.

DS – Apesar disso, considera que se está a construir o futuro?
ET – Só pode ser. Os clubes ou pelo menos alguns dirigentes parecem preocupados com a formação e isso é fundamental para a sobrevivência futebolística dos clubes do Algarve. Hoje estamos a formar jogadores para ver resultados daqui a 8 ou 10 anos. Naturalmente que esse é um trabalho invisível para a maioria dos adeptos, mas é o único caminho.

DS – O Farense já tem uma escola de Futebol ...
ET – Exactamente, e na minha opinião, com dez anos de atraso, no mínimo. Mas o fundamental é ter começado e, neste aspecto, devo referir o professor André Férin como o grande impulsionador de todo o processo. Aliás, julgo haver uma preocupação colectiva nesse sentido, por parte de toda a direcção. Acho até que a escola do Farense está no melhor caminho, quer ao nível de técnicos, quer ao nível de aderências, quer ao nível de resultados. Mas a isso podem responder pessoas mais abalizadas do que eu.

DS – Começam a surgir também outras escolas ...
ET – O que é importante. É um facto que as escolas de futebol devem reunir condições para realizar um trabalho válido. Tal como o Farense, têm surgido outros clubes e organizações com o mesmo objectivo. As escolas de futebol e o desenvolvimento do futebol são extremamente importantes, não só para a evolução dos miúdos, como para o futuro dos clubes e para a própria modalidade. É preciso reflectir que o futebol está a perder praticantes para os desportos radicais e até para outras variantes do futebol ou dos desportos de pavilhão.

DS – Acha que a crise do futebol sénior do Farense pode influenciar os escalões jovens?
ET – Pode. O Farense tem sido a bandeira do Algarve ao mais alto nível do futebol nacional e a situação actual pode condicionar muita coisa. Os miúdos na formação vivem de referências e ídolos e vão procurar essas referências nos clubes de referência, obviamente. Se o Farense deixar de ser referência, naturalmente, vai ser penalizado por isso.

DS – O Futebol juvenil do Farense também não tem sido feliz ultimamente?
ET – Os escalões jovens vivem de fornadas, gerações, como se quiser chamar. Existem flutuações naturais. A verdade é que o farense se mantém nos nacionais em todos os escalões previstos, já há bastante tempo. Isso é o mais importante e o mais difícil. O que interessa fazer uma grande campanha num ano e descer na época seguinte. A capacidade de se manter entre os grandes reflecte o trabalho desenvolvido.

DS – Voltando aos infantis, ao campeonato e ao futuro. Há jogadores com futuro neste Farense?
ET – Claro que há ! Estamos a falar de infantis, de jogadores que hoje são importantes e que amanhã nem por isso. Jogadores que evoluem naturalmente, outros que se perdem, outros que se superam e outros que despertam mais tarde, quer física quer tecnicamente. Nesta fase, o importante é o acompanhamento da evolução e tentar não desperdiçar valores. Devo registar também que tivemos três jogadores na Selecção do Algarve e dois fizeram testes no Sporting. Nesta equipa existem potenciais jogadores, aqueles que não enganam, mas que dependem da evolução e da orientação.

DS – Quais os aspectos mais ou menos interessantes deste campeonato?
ET – O mais interessante, naturalmente o elevado nível de competitividade. O menos interessante, obviamente a arbitragem. E não me refiro á qualidade das arbitragens, refiro-me á ausência de árbitros. Estamos numa competição de jovens em fase inicial, com grandes responsabilidades na Formação ou na Deformação dos jogadores e das pessoas.

DS – O melhor e pior da campanha dos novos campeões ?
ET – Esta é uma equipa de carácter e esse foi o seu principal argumento ao longo da competição. Revejo o jogo com o Quarteirense em Quarteira, como o melhor em termos colectivos. Lembro as fases difíceis em que não sabíamos com que jogadores podíamos contar para o jogo seguinte. Recordo as dificuldades que equipa teve com lesões, doenças e castigos escolares. Recordo a importância das vitórias em Lagos e Vila Real, numa fase de fragilidade da equipa. Não esqueço o apoio incondicional dado aos miúdos por parte dos dirigentes Paulo Cartaxo, Tony Matias e Rui Marguilho, tal como não me esqueço dos pais, praticamente os únicos adeptos presentes e cuja dedicação e apoio nunca é demais salientar. Lembro-me até da derrota com o S. Luís que nos fez pensar que tínhamos hipotecado a época. Mas no fim, o resultado foi positivo e os miúdos mereceram aquela volta ao S. Luís e aquela emoção toda. Só pela sua alegria e pela sua evolução já tinha valido a pena.

5 comentários:

Anónimo disse...

Foi a melhor epoca de sempre que eu fiz e com o mister que mais gostei tanto como treinador como pessoa !

Abraço do Nuno

Anónimo disse...

Obrigado Nuno. Podes acreditar que para além das qualidades de jogador tu eras o miúdo no coração de todos. Técnicos, Dirigentes e Jogadores.
Volta ao futebol Nuno.

Abraço de um amigo
ETaylor

Anónimo disse...

Uma época que ficará para sempre depois de tantos anos. Obrigado por tudo mister e continue a trabalhar como tem feito!

Fitas

Anónimo disse...

Grande Fitas, um abraço.
Soube que não estás a jogar. Tenho pena. Não deve haver treinador que não quisesse trabalhar com o Fitas.

Sabes Fitas, nós temos a nossa história. Somos campeões.

Abraço de um amigo
ETaylor

Anónimo disse...

CARALHO