06/01/11

CONVERSA COM BERNARDO MADEIRA

Bernardo Madeira

Inauguração do Estádio Algarve

Infantis A - Madeira segundo da direita em cima

Enquanto treinador dos Infantis do SC Farense, sempre considerei dois aspectos importantes: Primeiro, este escalão era o primeiro estágio de exigência competitiva e segundo este era o escalão das definições dos praticantes e decisivo na preparação para o seu futuro. Por isso, utilizei como prioritário o sistema 3.2.1, por forma a criar hábitos posicionais. Independentemente dos resultados desportivos, queria “construir” jogadores para as diversas posições com capacidade de integração fácil no futebol de 11. Daí, trabalhar o desenvolvimento de capacidades específicas por sectores como centrais, laterais, trincos, distribuidores e avançados. Acredito, que a intenção teve algum sucesso.

Na posição específica de trinco, encaminhei jogadores como Jorge Ramos, Ricardo Pereira, João Fitas, Bernardo Madeira, Diogo Andrade, Fernando Nóbrega, Manuel Caldeira, Tiago Mendonça (Este com características diferentes) e não se perderam.

Dos jogadores que escolhi para aquela posição, Bernardo Madeira tem sempre um lugar de destaque, por razões diversas. Primeiro por desconfiança e depois por confiança. Nos primeiros treinos, identifiquei qualidades para explorar e também preocupações. O Madeira não conseguia dosear o esforço e, talvez por ansiedade, tinha pulsações elevadas e dificuldades de respiração que me preocupavam. Ultrapassadas as reservas de saúde (certamente exageradas da minha parte) e com a conquista de espaço, Madeira tornou-se pendular nas exibições e um predador na sua área de actuação. A sua força de vontade, mais a vontade de fazer força, transformaram-no num indiscutível. Um exemplo de aplicação, dedicação e afirmação.

Em 2003/04, nos infantis B, escrevi sobre Bernardo Madeira: Proveniente da Captação. Nas minhas equipas a posição de trinco tem uma importância relevante e com trabalho conseguimos criar hábitos em Ricardo Pereira e João Fitas. Nesta equipa, apostamos em Bernardo Madeira e o resultado foi de grande confiança nas suas possibilidades.

Olá Madeira, vamos lá recordar o passado, falar do presente e antever o futuro, a começar pelo princípio…

Os Infantis B foram a minha primeira experiência como jogador, pois só costumava jogar futebol na escola, por isso demorei algum tempo a adaptar-me e como resultado era poucas vezes opção. Mas, depois de passar essa fase de adaptação, consegui entrar na equipa e fiz um resto de época de bom nível. Penso que foi uma época muito boa, pois construímos um grupo forte, onde se fizeram muitas amizades (que duram até hoje) e onde alcançamos um 4.º lugar que nos deixava confiantes para o que poderíamos fazer no campeonato do ano seguinte em Infantis A. Facto que se tornou impossível pois os Infantis A, desse ano, desceram para a 2.ª Divisão.”

Em 2004/05, nos infantis A escrevi sobre Bernardo Madeira: Elemento com grande capacidade de trabalho, bons níveis de exigência competitiva, regularidade competitiva, disciplina táctica e adepto do futebol colectivo. Grande eficácia na recuperação de bola e inteligência na sua distribuição. Jogador com características de trinco com evolução notória na condução e passe. Titular com rendimento elevado. Jogador fundamental no equilíbrio estrutural da equipa e na disciplina táctica colectiva. Desenvolvimento físico e técnico adequado. Utilizado como trinco.

Quando chegamos aos Infantis A tivemos de disputar a 2.ª divisão, que basicamente foi jogada entre 3 equipas. Apesar de fazermos um bom campeonato, acabámos por não atingir a subida de divisão pois perdemos 1-0 no último jogo, em que apenas precisávamos de empatar. Foi um dos jogos mais frustrantes e tristes que tive, pois massacramos o jogo todo e até tivemos um penálti a nosso favor que infelizmente o Pedro falhou!

Foi realmente uma época de sorrisos e lágrimas. Tantas vitórias e uma derrota impensável… enfim, acontece! O problema é que nos aconteceu a nós. Uma injustiça do tamanho do mundo.

A vida continua e em 2005/06 chegas aos iniciados…

Na época seguinte subimos para o escalão de iniciados, onde passámos a jogar no campo de 11. No entanto, ao contrário do que aconteceu nos Infantis B consegui adaptar-me rapidamente e agarrei o lugar na equipa logo no início, o que tornou tudo mais fácil. Foi talvez das melhores épocas que tive no Farense, pois fui titular em quase todos os jogos e conseguimos uma boa classificação no campeonato.”

Em 2006/07, o segundo ano de iniciados…

O segundo ano de iniciados foi uma desilusão a nível colectivo, pois descemos de divisão apesar de termos uma equipa com valor mais do que suficiente para nos mantermos. Fizemos um campeonato muito irregular em que ganhávamos aos primeiros e perdíamos com os últimos. Mais uma vez voltamos a falhar no último jogo em que precisávamos de ganhar para assegurar a manutenção e acabamos por perder. Mas nem tudo foi negativo, pois consegui jogar a maior parte dos jogos e serviu para todos nós crescermos como jogadores e como homens.”

Em 2007/08 chegas aos juvenis…
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.Nos juvenis, mais uma vez, voltámos a descer de divisão. Isto, apesar de no início da época termos grandes expectativas, pois os juvenis na época anterior tinham ido à 2.ª Fase do campeonato nacional e em iniciados tínhamos feito um bom campeonato, com esta mesma equipa. Apesar disso, a nível individual foi uma boa época pois joguei grande parte dos jogos e consegui ser chamado á selecção do Algarve de sub-16, onde nos conseguimos apurar para a fase final do torneio, no Jamor.”

Em 2008/09 nova época de juvenis, mas em divisão inferior….

No segundo ano de juvenis jogámos na 1.ª divisão distrital e mais uma vez não atingimos a subida de divisão, desta vez por 3 pontos. Foi um ano em que não evoluímos tanto como em anos anteriores pois a exigência do campeonato era bem mais baixa do que estávamos habituados.”

Pois! Descem os níveis competitivos, descem os níveis de competência, em confronto com aqueles que sobem os níveis competitivos e estão motivados a fazer subir os níveis de competência.

Em 2009/10 chegas aos juniores, um escalão de maior exigência…

O escalão de juniores de primeiro ano, foi a época mais difícil de todas, pois no início, nós que vínhamos dos juvenis não éramos opção para o mister e tivemos dificuldade em entrar na equipa. Na pré-época, cheguei mesmo a ser dispensado, mas uma semana depois houve uma troca de treinadores e voltei a ser chamado. Foi um campeonato muito competitivo e difícil para o Farense, onde tivemos vários problemas (entre eles as muitas trocas de treinador), tendo mesmo descido de divisão. No entanto, para além disso foi uma grande experiência, pois jogámos contra as melhores equipas do país. Apesar dos percalços do início da época ainda joguei muitos jogos e fui chamado á selecção do Algarve de sub-18.”

Sete anos no futebol de formação do SC Farense, muitos treinadores…

Aprendi muito com todos os treinadores que tive, mas os que mais me marcaram foram:
O mister Emídio, que me ensinou os princípios básicos do futebol e do que é ser jogador de futebol (“
Brinca no treino, mas não brinques com o treino”), princípios que tentei sempre seguir ao longo dos anos e que até agora penso que consegui cumprir.
O mister Nuno Ramos, que foi muito importante na minha adaptação ao futebol de 11, pois integrava muito bem quem vinha dos infantis para os iniciados. Quando ainda éramos infantis ele chamava-nos para treinar nos iniciados para nos irmos ambientando com os outros colegas mais velhos e com o campo. Lembro-me que ele trabalhava muito bem as situações tácticas e posicionamentos dentro de campo, o que nos ajudava bastante. Além disso, apesar de eu ter vindo dos infantis e de nunca ter jogado futebol 11, ele não teve qualquer problema em apostar em mim desde o início, tudo isto me ajudou muito na minha evolução como jogador.
E por último, o mister Ferrinho que nos ajudou bastante. Ele incutia-nos muita vontade de vencer e de dar a volta por cima, quando as coisas não corriam como queríamos, o que infelizmente nos faltou em anos anteriores
.”

E o Clube SC Farense…

Infelizmente entrei para o Farense quando o clube já se encontrava em decadência, por isso, nos meus anos de formação, nunca tivemos muito apoio da direcção e foram os pais e os directores mais próximos da equipa que com muita boa vontade, tiveram de suportar muitas coisas e de fazer alguns sacrifícios para nos ajudar. Lembro-me que ás vezes não tínhamos fatos-de-treino, nem transporte para ir para os jogos, nem lanche para depois destes. Mesmo na época passada, nos juniores, em que disputámos a 1.ª Divisão Nacional, o nosso director, o Sr. Manuel, é que pagou muitos lanches, almoços e jantares do próprio bolso. Penso que é uma vergonha que um clube com a grandeza do Farense, que é o maior símbolo desportivo do Algarve, apoie tão pouco os seus escalões de formação.
Mas estou confiante que melhores dias virão, pelo menos os seniores têm recuperado bem da crise e já se encontram na 2.ª Divisão Nacional, pode ser que dentro de poucos anos voltemos a ver o grande Farense de volta ao lugar onde pertence… à 1.ª Liga!


E os estudos?

Em relação aos estudos, este ano, estou no 1.º ano do curso de Informática na universidade, em Lisboa.”

Na tua idade de júnior de segundo ano, a época de 2010/11, o escalão não começou muito bem…

Esta época de júnior só joguei nas duas primeiras jornadas, pois tive de ir para a universidade, tornando impossível que continuasse a dar o meu contributo à equipa dentro do campo, mas apesar disso continuo a acompanhar os jogos e a dar o meu apoio fora dele.
Apesar de algumas dificuldades devido á troca de treinador e algumas divergências no balneário, a 1.ª volta do campeonato não correu muito bem, mas a equipa parece estar a conseguir dar a volta por cima e os resultados estão a aparecer. Esperamos, pelo menos, conseguir assegurar a manutenção o mais rápido possível e fazer boas prestações para que para o ano, alguns dos nossos jogadores consigam ingressar na equipa sénior.
Além disso, continuo a jogar futebol na equipa da universidade.


Para terminar, quais são os teus sonhos e projectos?

Acabar o curso o mais rápido possível, continuar a jogar futebol e…. o resto logo se vê.

Obrigado pela partilha e continua assim Madeira: definindo prioridades e alcançando objectivos.
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ETaylor

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