17/02/11

OS HERÓIS DE 2004 (2)

Capítulo II
A segunda fase - Primeira volta

O escalão de iniciados do SC Farense chega à segunda fase com fortes e legitimas expectativas. A primeira fase serviu para construir um grupo competitivo e gerar níveis de confiança para enfrentar novos e acentuados níveis de exigência.

Na segunda fase, o SC Farense iria medir forças com o CD Santa Clara (Açores), CF “Os Belenenses” e Associação Naval 1.º de Maio.
Tendo como objectivo atingir lugares nunca antes alcançados e fazer história, a equipa farense tinha, acima de tudo, de revelar capacidades para ultrapassar este patamar, nomeadamente o Belenenses, um dos favoritos para o apuramento.

Para a equipa técnica este era um momento de grande responsabilidade considerando as expectativas…

TOZE PEREIRA: “Fomos para a segunda fase com os níveis de confiança e motivação bastante elevados e com o sentimento de que a partir daquele momento mais coisas positivas podiam acontecer. Havia um misto de sentimento do dever cumprido e de vontade e confiança para fazer mais qualquer coisa, sabendo sempre que tínhamos no grupo o Belenenses que na primeira fase havia ficado à frente do Benfica.
Domínios como o espírito de grupo, solidariedade, rigor e competitividade já estavam bem enraizados dentro da equipa, a partir daquele momento foi só deixar os jogadores colocarem em prática todo o seu potencial.
Não me recordo de termos colocado algum objectivo específico para a segunda fase, sabíamos que tínhamos o nosso potencial e que havia o Belenenses que, à partida, era o favorito a passar à fase seguinte. A preparação para esta fase não fugiu muito, salvo algumas adaptações, do que tínhamos preparado para a primeira fase. As dificuldades aumentaram naturalmente, as condições de trabalho oferecidas pelo clube melhoraram, muitas portas se abriram. Os jogos não mereceram uma preparação nem uma abordagem especial, trabalhámos sempre com o objectivo de elevar, ainda mais, as capacidades dos jogadores e da equipa, sabendo que as dificuldades que íamos encontrar seriam maiores
.”

NUNO RAMOS: “As nossas expectativas eram moderadas, sabíamos que já tínhamos atingido o nosso objectivo. No entanto, o nosso pensamento era o de aproveitar a oportunidade e fazermos o nosso melhor em cada jogo. Nesta fase, alteramos o nosso microciclo tipo e começamos a realizar 4 treinos por semana, ao contrário do que tinha acontecido anteriormente, onde apenas realizávamos 3 semanais. Sentimos a necessidade de preparar os jogos mais detalhadamente, o que nos levou a programar mais uma sessão de treino. Através de alguns conhecimentos, conseguimos obter informações dos nossos adversários, e isso contribuiu bastante para a nossa preparação.”

Para ajudar nas memórias convidamos David Pirralho, o homem golo da equipa nesta campanha com 20 golos. Conta lá Pirralho como te sentiste na equipa e nesta época de sucesso…
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DAVID PIRRALHO: “Foi muito bom, tenho uma saudade imensa desses tempos de glória do Farense em que fizemos história. Fico muito feliz por ter tido o privilégio de ter estado presente e ter contribuído com golos e muita dedicação. Uma equipa técnica maravilhosa, com um apoio muito importante que penso, vai faltando cada vez mais no futebol e para quem inicia uma carreira de futebolista como foi para nós naquela idade. Posso dizer que foi o ano em que mais me senti um jogador de futebol.

O primeiro encontro disputou-se em casa e o SC Farense voltou a alimentar o sonho com vitória esclarecida sobre o CD Santa Clara por 3-1. O caminho continuava intacto.

SC FARENSE – 3 - CD SANTA CLARA – 1
SC Farense
: Jorge Leitão, Diogo Ildefonso, Francisco Maia, Luís Oliveira, Tiago Moreno; Pedro Eugénio, Luís Girou, Ricardo Pereira, Tony, João Cláudio “Batata”, David Pirralho e ainda: Pedro Chanfana, Nuno Alves, Barriga, Jorge Santos.
Golos: Pedro Eugénio, Francisco Maia, David Pirralho.

Nada melhor do que começar bem e dar continuidade ao trabalho…

TOZE PEREIRA: “Este foi o primeiro jogo da segunda fase, havia alguma apreensão relativamente ao valor do nosso adversário mas, com o espírito e vontade de ganhar bem enraizados, com os níveis de confiança muito altos, a vitória aconteceu de forma muito natural, sem grandes dificuldades."

NUNO RAMOS: “Este jogo foi o início da segunda da fase. A expectativa era grande porque conhecíamos pouco o Santa Clara. As referências que tínhamos eram apenas as das épocas transactas, onde habitualmente as equipas que vinham das ilhas, nomeadamente dos Açores, eram sempre as mais frágeis nesta fase da competição. Entramos muito concentrados mas, na primeira parte, não conseguimos obter nenhum golo. No entanto, constatamos que a equipa adversária estava ao nosso alcance e, tendo em conta os nossos objectivos, arriscámos um pouco no segundo tempo, mesmo porque não tínhamos nada a perder. Alteramos o nosso sistema táctico e passámos a jogar com 3 defesas (Diogo, Maia e Moreno), 2 Avançados (Pirralho e Batata) e 2 extremos (Chanfana e Girou). No início do segundo tempo, marcámos 3 golos nos primeiros 15 minutos e o jogo ficou praticamente resolvido. Lembro-me perfeitamente do nosso segundo golo, um cruzamento do corredor direito e uma finalização fantástica do Eugénio a rematar sem deixar a bola cair no solo.”

Na segunda jornada da Série D, o SC Farense tinha pela frente o seu maior desafio com a deslocação a Belém. Se este encontro não era decisivo andava lá perto. Era importante evidenciar capacidades e desmistificar o favoritismo do Belenenses. Mesmo a nível interno. O resultado foi um sorridente empate a um golo.

CF “Os BELENENSES” – 1 - SC FARENSE – 1
SC Farense
: Jorge Leitão, Diogo Ildefonso, Francisco Maia, Luís Oliveira, Tiago Moreno; Pedro Eugénio, Luís Girou, Ricardo Pereira, Tony, Pedro Chanfana, David Pirralho e ainda: Nuno Alves, João Cláudio “Batata”.
Golos: David Pirralho.

Um jogo importante e um empate moralizador. Afinal de contas tudo ficou na mesma, mas empatar fora e em casa do principal adversário…

TOZE PEREIRA: “Segundo jogo desta segunda fase, com a equipa que à partida seria a favorita a passar de fase. O clube proporcionou-nos a oportunidade de viajar no dia anterior, portanto, como já tinha dito antes, à medida que este campeonato foi avançando, com tudo de bom que foi acontecendo, as condições para realizarmos um bom trabalho foram também melhorando. Não nos faltava nada.
Quando chegámos ao campo onde íamos jogar ficámos um pouco apreensivos, pois colocaram-nos a jogar num recinto bem mais pequeno que o da Horta da Areia. Só para termos uma ideia, o golo que sofremos foi de grande penalidade, feita pelo Maia, julgo eu, resultante de uma falta cometida junto à linha lateral. Ou seja, da linha da grande área à linha lateral ia cerca de um metro, ou se calhar nem isso.
Mas foi a grande atitude competitiva que os jogadores colocaram em campo que nos permitiu ir à casa do Belenenses conseguir um resultado que, à partida, ninguém pensaria ser possível. Não me posso esquecer, também, o grande e decisivo apoio que alguns amigos e pais de jogadores prestaram, em todos os jogos, mas neste foi particularmente importante
.”


NUNO RAMOS: “Na minha opinião este jogo foi determinante, porque sabíamos que o Belenenses era a equipa favorita a passar à fase final, e embora já tivéssemos defrontado equipas com muita qualidade, este adversário era, sem dúvida, o mais forte. Na preparação do jogo, conseguimos obter informações sobre a equipa adversária, e nessa semana realizámos um jogo-treino com a equipa de Juvenis, com vista a preparar o jogo da melhor forma possível. Saímos de Faro na véspera do jogo e pernoitámos em Lisboa, no Centro de Estágio do Jamor. A equipa estava muito motivada e os atletas estavam muito concentrados (alguns até tiveram tempo para fazer a depilação para se apresentarem mais velozes do que nunca… nada iria atrapalhar.). Encontrámos um campo sintético muito reduzido, principalmente em largura, onde a linha da grande área quase que coincidia com a linha lateral. O jogo foi muito equilibrado, a bola rapidamente se encontrava próxima de uma e da outra baliza, contudo na primeira parte não houve golos. Entrámos muito bem na segunda parte e marcámos logo no primeiro minuto, com um golo do Pirralho. Depois foi tentar segurar a vantagem, mas eles acabariam por empatar o jogo. Foi um resultado justo! Com este resultado começamos a sonhar!

O esquerdino Tiago Moreno foi dos jogadores mais utilizados durante a campanha. Conta lá Tiago, este jogo foi complicado…

TIAGO MORENO: “O Belenenses era, sem dúvida, o adversário mais forte nesta fase e aquele que estava em disputa pelo primeiro lugar do grupo, connosco. Em Belém fizemos provavelmente um dos melhores jogos da época. Foi uma autêntica batalha, tal como o jogo da segunda volta. Eles tinham um avançado muito poderoso, mesmo muito bom, "enorme", era daqueles que fazia golos até mais não. Ainda me lembro da qualidade do Maia, foi impressionante, secou o rapaz o jogo todo.

Na recepção à Associação Naval 1.º de Maio, eventualmente a formação menos capacitada, era tão importante vencer como não desperdiçar pontos. Ás vezes, são estes os jogos mais complicados. Mas a vitória confirmou-se e por 3-0.

SC FARENSE – 3 – NAVAL 1.º DE MAIO – 0
SC Farense
: Jorge Leitão, Diogo Ildefonso, Francisco Maia, Luís Oliveira, Tiago Moreno; Pedro Eugénio, Luís Girou, Ricardo Pereira, Tony, João Cláudio “Batata”, David Pirralho e ainda: Pedro Chanfana, Álvaro Gomes, Barriga.
Golos: João Cláudio “Batata”, Francisco Maia, Ricardo Pereira.

Uma vitória normal para ajudar na embalagem…

TOZE PEREIRA: “Com o resultado da jornada anterior a nossa confiança atingiu o ponto mais alto e começámos a pensar que o nosso campeonato podia não ficar por aqui.
Foi uma equipa extremamente motivada e competitiva que recebeu e venceu sem dificuldades a Naval 1.º de Maio
.”

NUNO RAMOS: “Este era o nosso segundo jogo em casa e não queríamos deixar fugir a oportunidade de amealharmos mais 3 pontos. Na primeira parte não conseguimos marcar, mas no início do segundo tempo, através do Maia, conseguimos fazer o mais difícil, marcar o primeiro…

Três jogos e sete pontos. Dois jogos em casa e um fora. Aproximava-se a fase mais complicada, com dois jogos fora e um jogo em casa com... o Belenenses. Nada estava decidido, mas o SC Farense estava "dentro" da competição.
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Já a seguir, a segunda volta da II Fase.
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ETaylor

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